sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Um soco no peito


Os segundos são fumaça.
Trazem dor aos olhos
Cansados de tanto enxergar.
Prédios altos, baixos e pretos,
Barulho de nada, às vezes de tudo.
Com sedas por volta,
Todas coloridas
E que ninguém vê.
Ninguém nem sabe que existe.

O tempo mata e nunca morre.
O tempo engasga o pólen na garganta.
O tempo abaixa com o pau,
E estampa-se em relógios inúteis.
Os ponteiros são a morte,
Não pedem licença,
Giram feito cata-vento
Mas nunca alegram a criança.
Que sempre apodrece deitada nas horas.

E os peitos da multidão,
Pobre multidão sofrida.
Derramam o leite verde pelas calçadas.
Com seus duros mamilos marrons,
Com gosto de tinta fresca.
E apoiados nas roupas feias da moda,
Desfilam o ódio em forma de existência.
Querem o que não é seu,
E se conseguem, gargalham dos Pardais de Peito-Estufa.

Nos Castelos Brancos nada fede.
Nos Castelos Brancos tudo reluz.
Lá não há choro que cubra o rosto,
Nem sorriso que o alongue.
Lá é um Castelo Branco, e só.
Tem água limpa, suja, à escolha.
E sempre uma palavra tola,
Bela palavra tola, que descansa o ser.
E uma nuvem em cima das camas,
Que chove sem pensar em parar.

Querer a resposta do estímulo de Deus,
Faz-nos perguntas de mendigos burros.
Receber o início das profundezas do pensamento,
E tecer o final conforme a vontade própria.
E no vômito da solidão,
Onde os pássaros não voam nem passam,
Descobre-se a esmola dentro do bolso.
E como uma miniatura de mundo,
Visto minhas calças e saio pra rua,
Em busca de um pouco de mim.


Jonas Lewis da Costa Franco