segunda-feira, novembro 12, 2012

Da Violência


                Alguns séculos de existência e a mania incessante de negar as guerras. Levantes, revoltas e inquietações firmam nossa trivial capacidade de fazer-nos humanos. Há quem reflita-se pacífico. Há os que se consideram pacatos e sossegados. Ilusão. Útil equívoco aos labirintos da mente, que frente ao caos, lamenta-se por fazer parte das catástrofes. As reclamações frente ao vizinho, as queixas ao taxista e a indignação com a política, com a segurança, são métodos práticos de encenarmos a paz que jamais praticamos. Somos o que Hobbes considerou os lobos de nós mesmos, e temos incrível tendência ao ódio, ao crime e à violência. Sem o problema, não havemos. Sem a hostilidade e seu frenesi, não somos mais do que espectadores infelizes de uma peça vazia, desprovida de luzes e ausente dos atores.
              
                 Manifestações de repúdio, atos indiretos de cidadania. O ódio ao ódio é o que nos sobra enquanto habitantes das cidades, das vilas, da internet e dos círculos sociais. Bradamos contra a morte, protestamos a favor de uma paz que não sabemos do que se trata. Criamos a imprensa e a imprensa nos criou. Testemunhas diárias de suas tragédias, ouvintes assíduos de confusões que nem bem existem. O jornalismo, a publicidade, são homens enganando homens, que por sua vez, pensam enganar outros homens, mendicantes, estéreis sociais e fracos. E o círculo fecha-se como maldição. Os desprovidos, violentos e sedentos pela nova fatalidade, somos nós. O criador educado pela cria. O público ávido, que espera sentado os novos assaltos e as novas trapaças, que torna-se saborosa e nutritiva, quando ocorre próxima, mas não tão próxima que a nós atinja diretamente. 

2 Comments:

Anonymous Fino said...

Um ensaio pequeno e forte. Curti.

3:52 AM  
Anonymous Paulo G. said...

Sempre ótimo! Entro na internet, abro meus e-mails e venho até O Soco.

5:25 PM  

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