terça-feira, junho 24, 2014

Basta

Nietzsche incumbiu à arte a crucial responsabilidade de não deixar com que a verdade nos consuma. Evitar que o ordinário nos execute pouco a pouco. Mesmo que boçais artistas insistam em evitar a subversão do monótono, do medíocre, dando lugar à simples exposição do rotineiro, do verídico, a arte sustenta-se ao esteio incólume do imaginário. Vive ainda na realidade dos paradoxos, na veracidade do impossível e na capacidade de ser minuciosa, mesmo quando corre em colossais planícies.

Até na fotografia do inegável, do que parece não dar brechas para a dúvida, para a análise, a arte pede caminhos obscuros, dissimulados. A arte necessita do tênue, mesmo quando esbarra conscientemente no robusto, ou na corpulência de uma expressão espessa, volumosa. Por entre os poros da revelação, há de haver o que fisgar o que compreender.

Basta de símbolos. Cansa-nos o perseguir intenso das metáforas. Elas são belas, e por que não haveriam de ser? Mas não são imperativas, tampouco obrigatórias. Cansam e importunam. Criam uma espécie de fanatismo pelo desígnio, pela representação. Como na história das cores em uma bandeira, demarcamos a conclusão através das adivinhações, dos enigmas obsoletos, pobres e maçantes. Porra! Chega dos símbolos.