quinta-feira, agosto 25, 2022

Bolsonaro não é gay

Jamais a mim pareceu absoluta veracidade o fato de que a aversão caracteriza alguma afinidade, paixão ou tesão. O intolerante teria assim, a magia de um conflito, algo finamente psicanalítico que pudesse explicar sua violência, seu sectarismo e sua estupidez. Fugiríamos do fato de que odeia, assim como ama, utilizando-se de certezas grosseiras, indelicadas e principalmente, confiando e valendo-se de argumentos imprestáveis. 


Mas algo me chamou a atenção. Parece-me talvez um sinal de que o amaldiçoar dos comportamentos e desejos alheios, escorre por entre os dedos curiosos, entusiastas e até encantados do tirano. Pelo décimo segundo ano consecutivo, somos o país que mais assassina transexuais no mundo. A rejeição familiar, a marginalização econômica e a impunidade machista dos criminosos, empurra-nos ao fundo do poço. Por outro lado, segundo os sites especializados no assunto, somos também mundialmente, o país que mais consome "pornografia trans". Temos um conflito de informações ou uma prova inequívoca de que a agressão sucede o arrepio? O tesão? Parece que tem gente demais maldizendo o carnaval, enquanto as ruas seguem lotadas de foliões, brilhantes fantasias e mijos na porta das lojas. 


O país de Bolsonaro é o campeão em momentos eróticos com transexuais, enquanto domina, humilha e afronta homens que desejam homens e mulheres que, por um tropeço genético, nasceram com um elemento trocado por entre as pernas. Essa é a verdadeira liberdade de Bolsonaro. A anarquia racional, a barafunda humana, a esculhambação de uma república. Querem o assassinato e a segregação de quem, há dois minutos, lhes serviu como subalterno, como inferior. Assim raciocinam também com as mulheres, posto que em nenhum momento lhes atribuem valores acima dos que assistiram por toda a vida em suas tradicionais famílias brasileiras. Aqui a mulher, ao homem instintivo, carrega nos seios plenos a existência incomodativa.  O motivo pelo qual a travesti torna-se perfeição. 


"Brasil não pode ser país do mundo gay. Temos famílias.", disse o parco presidente à nação que já persegue homossexuais naturalmente, como se maldição demoníaca fosse, tal e qual a cruel caçada aos albinos no Malawi. País miserável e rudimentar do sudeste africano. O fato é que não somos um país do mundo gay. Somos um país que, também miserável e rudimentar, vergonhosamente ainda massacra dois homens apaixonados ou garotos afeminados que desejam não somente sobreviver, mas existir, como pessoa. Gozar.  E reaprender.  Ensinar-nos insistentemente a multiplicidade do amor. 


Disse-nos o RedTube que essa obsessão reflete também em masturbações às escondidas ou em festas privadas com travestis e transexuais. Fato que não devia causar-nos constrangimento, a não ser que protegêssemos e zelássemos por quem nos encanta sexualmente. Mas feito o samba, o funk e a religião africana, a orientação homoafetiva é tratada nas Terras Brasilis como marginal, periférica, delinquente. E assim o país que se esconde em personalidades como Bolsonaro e sua corja, parece convencer-me de que a aversão é o resultado de uma incrível atração. Mas parece somente. Porque pouco me convence. Afinal, onde muito se critica, muito se deseja? Onde muito se agride, muito se fantasia? E onde tanto se mata, muito se é tentado pelo tesão? Não é razoável para mim. Parece-me pouco. 


Bolsonaro não é gay. Não é afeiçoado à vida a ponto de subverter nada que é banal, como a heterossexualidade. Não possui a capacidade abstrata de insubordinar-se à criação estúpida e ao modo descortês com que trata os discordantes. Bolsonaro não ama nem as mulheres, nem os homens. O exceptuado capitão ama, quiçá, suas certezas belicosas e seus argumentos tresloucados. Não carrega consigo a capacidade de ser ardente como Ney Matogrosso, deslumbrante como Pablo Vittar. Não chegaria perto da bravura de Laerte, da sapiência de Renato Russo ou da maestria artística das Dzi Croquettes. Bolsonaro não tem a sabedoria e a aptidão humana para gozar com um homem. E sua trupe não há de compreender o orgasmo, a libidinagem e a safadeza dos corpos e das almas. No máximo, lideram a imoralidade no trabalho, no gabinete ou na frieza dos afazeres de suas funções. São indecentes onde não deveriam. Degenerados e escandalosos de forma apolínea, e nunca dionisíaca como necessita o princípio vital humano.

Todo Bolsonsrista é um infeliz, que disfarça de si a própria imoralidade. Esta que faz-nos música e não rocha. Que dobra-nos como tecido e não como folha seca. 

Jonas Lewis da Costa Franco