sexta-feira, janeiro 15, 2021

Anitta, Neymar e o fracasso da arte

O “menino” Neymar é amigo de Luciano Huck. Não do Hang, do Huck. Mas bem que não me surpreenderia uma estátua da Havan em frente à festa imoral do garoto. Camarada de Gabriel Medina, Thiaguinho, e de outros enfadonhos e limitados “parças”, Neymar é o arquétipo de um arruinado Brasil. O embaixador de uma geração cansada e cansativa. O arauto de homens e mulheres que esquivam-se temporariamente da casa dos pais, e em meio à cruel e mortífera pandemia, passam o fim de ano em Jurerê Internacional, num deck frente à praia, escutando Dj Alok, saboreando sublimes Skol Beats e contraindo o vírus, que em seguida levará familiares e desconhecidos a UTIs em situação preocupante. De que importa afinal o honesto, o virtuoso, o justo, se nada disso dá boas postagens no Instagram? 

 

O documentário de Anitta na Netflix é magistral. Antropologicamente magistral, se o caso é compreender um mundo inconsistente, ralo, aguado. E talvez, principalmente, um Brasil repulsivo, pretensioso e histérico. Anitta comanda uma trupe de parentes, agentes e empregados, a quem dedica tratamento altaneiro, arrogante e grosseiro. Sempre com a escusa de uma pressão profissional, de uma personalidade centralizadora e de uma imensa vontade de que tudo aconteça com perfeição. 

 

Anitta é amiga de Neymar. Neymar talvez tenha comido Anitta. Que por sua vez, insiste em declarar sua independência e liberdade sexual a cada dez segundos de documentário. O calabouço quando ainda assusta, faz o enclausurado declarar-se feliz e liberto. A dissimulada soberania sexual de Anitta é como as malas Louis Vuitton de Neymar, quando chega com a delegação para a partida. Seus fones, e sua malandra caminhada até o vestiário, celebram a cafonice dos apartamentos em Camboriú, das férias em Aspen, e do tal deck atolado de bombados e gostosas covidentas, fotografando a angustiante existência em Jurerê Internacional. A morte do futebol e da música. 

 

A inspiração é um cadáver, e a instrumentalização humana é gelatinosa, precária. Consegue o curioso fato de não depositar em mim tampouco a ávida inveja de uma vida de luxos, badalação e dinheiro para dar e distribuir.

 

Anitta e Neymar deveriam casar-se. Rei e rainha numa possível monarquia desse país infundado e indelicado. Em Janeiro teremos novos defuntos. Alguns vítimas dos netos e filhos que retornaram do Reveillón festivo, e outros, os de sempre, ainda vivos, como Neymar, Anitta e seus “parças”. Lotados de uma vida desabitada, e entorpecidos pelo vício letal das aparências.