Conselho que vos deixo?
Se me fosse dada a permissão ao conselho...
Diria para que grites. Fale o mais alto que puder.
Ao menos uma vez.
Seja indelicado, frio. Diga o que não deve ser dito.
Tome o salvo conduto do erro, ao qual padece a humanidade.
Fique sujo, inquieto. Aceite a dor do irreconhecível.
Escale uma montanha quando o corpo não permitir. E cante uma canção proibida, na mesa de família.
Entregue o jogo, pelo simples prazer da destruição.
Ranja os dentes, e diga sua palavra mais suja, no púlpito.
Erre mais de uma vez o mesmo erro, e delicie-se.
Faça o que não veio à cabeça, perca o controle.
Esmurre algo sólido. Sangre.
Exponha-se ao ridículo, desafine.
Fique sem palavras e mesmo assim não se cale.
Passe a vez. Desista. Force a barra.
Engorde. Aproveite a feiúra de um dia detestável.
Tenha um prazeroso desafeto, excomungue.
Maltrate-se. Trate-se. Finja de morto.
E quando pecar, agradeça.
Suba. Faça o contrário. Seja óbvio, torpe. Ria.
Disque um número qualquer e dê notícias.
Seja inconveniente, pesado.
E abandone. Largue o que é de vidro, recorte-se.
E morra. Ao menos uma vez.
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