quarta-feira, junho 29, 2011

Escrevi algo onde Deus falava à um servo fiél o que percebia na Terra. Isso é um trecho.

(...)Dei-lhes o amor momentâneo, filho meu. Ofereci aos homens aquela possibilidade de conquista. Criei a mágica que rodeia o macho e a fêmea, enchi de alma o primeiro momento de um primeiro beijo, e o que fizeram eles, ó servo fiel? Dei às mulheres aquela capacidade silenciosa de receber os lábios de um homem em suas costas, nos caminhos do peito e nas retas dos braços. Lotei o homem de possibilidade. Dispus os suspiros profundos que podem cheirar o perfume único de uma fêmea, e os dei as sensações inexplicáveis que residem do lado de fora de impulsos cerebrais e engenharias corporais. Algo como o nada, o absurdo, e até mesmo os ofereci meu próprio poder nesses momentos de homogeneidades espirituais. E no que transformaram essa melodia das almas, filho meu? Tudo virou rotina, necessidade, status masculino e valor feminino. O que fiz unicamente capaz de refletir as luzes da noite, da tarde ou das manhãs, hoje pisca no que chamam de néon em festas barulhentas. Queres amar assim, ó servo fiel que tanto aprendeste sobre a intensidade que há em uma paixão? Queres o silício de amar sem surpresa? Desejas a necessidade do amor e do toque das mãos, ou o cego suprir de uma vontade, aliado ao escorregão involuntário dos dedos no corpo de uma mulher?
Fizeram a tal sexologia, mais uma vez com o intuito de explicar minhas idéias ao invés de vivê-las. Arrancar às forças a capacidade transcendental do êxtase sexual, e jogá-los em livros e cartilhas. Devanear acerca de cada possibilidade corpórea, armadilha e contratempo que pode colorir o ato de amar. Roubar a graciosidade da vida, safar os desenganos e multiplicar conhecimento inútil sobre minha criação! Essa é a missão humana, filho meu? Por séculos tentaram calar os sussurros e gemidos das mulheres, alegando idéias morais absurdas e até mesmo lendas e costumes infundados, que contrariavam a própria natureza. E a gravidade é que ainda, após pensarem ter alcançado a capacidade de superação dessa mediocridade, continuam a destruir cada idéia que tive. As fêmeas agora, têm de arremedar os machos em sua grosseria silenciosa, nas idéias individualistas e maldosas. Acabaram tornando-se homens de longos cabelos e pés delicados, filho meu! E tantas outras cansadas da masculinidade dominadora e arrogante, decidiram beijar moças na busca daquele afeto que deveriam encontrar nos machos. Queres essa porcaria toda, ó servo fiel? Desejas amar uma mulher e deixá-la sentir-se homem? Pobres humanos que perdem a brincadeira que a vida é, escondendo-se atrás de uma tola seriedade. As mulheres nem mais aceitam que são o sexo frágil. E tiveram de tomar essa condição como absurda após séculos de sofrimento. Com razão, é claro, mas deixando tudo ainda mais tenebroso e trocado. Fragilidade não é defeito, filho meu. Nada é defeito senão a arrogância de pensar-se sábio como o céu. Fragilidade é a verdadeira alma feminina. O que as encobre de graça e beleza. E mesmo as fortes, decididas e independentes, se não carregarem aquela fraqueza forçada, aquela necessidade de suprimentos da alma, aquele sofrer no rosto, tornam-se homens um pouco mais ajeitados. Somente isso. Afinal as mulheres são os poetas da humanidade, que buscam incessantemente um alimento para a alma nas graças da vida, nas construções do sentimento e no próprio silencio revelador. Fiz os homens como meros fornecedores dessa magia, como se fossem a linguagem universal que fizesse as linhas de cada poema feminino, cantassem cada pausa e cada arrancada de um verso bonito, que só às fêmeas é destinado. Deveriam os homens abandonar a idéia de que são os verdadeiros filósofos, poetas e intelectuais. Por certo abandonariam se não fosse verdade. Porém o que não sabem é que somente realizam a parte prática dessa reunião de almas, de vazios e vontades. Os machos são os filósofos e poetas práticos, trabalhadores da arte, universitários e reconhecidos. Buscam algo que nem mesmo podem saber o que é, ao escreverem e pensarem. Jamais a verdadeira mulher, cheia de encantos e delicadezas, tirará da própria alma os poemas que todos os dias necessita e os pintará em papel, ou os projetará nas telas desses tais computadores. Elas os guardam pra cada minuto que virá, e por vezes nem sabem o que estão a fazer com os uivos da alma. A mulher é o próprio poema, filho meu! E o homem é o responsável por presenteá-las com os instrumentos e apetrechos para que possam as fêmeas escreverem poesia nas folhas brancas da interioridade. (...)