quarta-feira, agosto 07, 2013

meu Aniversário



Hoje é meu aniversário. E o que fiz? O que teria planejado? Não que tal questionamento me seja comum ao término do ciclo em que não comemoro meu nascimento. Somente que chega-me ao colo a vontade de colorir o tempo, de reescrever o ocorrido, de forma sucinta e bela. Que a outros encene a fabulosa inutilidade de minha imaginação. Do que é certo, e do que é aposta. Do que volta e corrói, e do que desaparece incólume, distinto.


Eu tenho coisas. E abro mão com uma incrível ternura. Dos poucos momentos, aliás, em que sou realmente incrível. Incrivelmente porco. Um homem que lambe a calçada. Um coprofágico compulsivo. Um indivíduo sexualmente doentio, ou humanamente são. Um cão lotado de donos, que desrespeita sua comida, seus panos de sono.
Ao conhecer-me, dou-te impressões, possibilidades. Não trago antídotos mesquinhos. Não cago em seus pratos, em suas mãos. Não soco a pica molhada em suas bocas secas. Mostro-lhes violentamente a pica como é. Pica, e somente pica. Tomo água e vinho. Bebo venenos e como porcarias que me fazem bem, e mal. Escuto o que seus ouvidos não entendem, e gozo. Estremeço ao primeiro sinal de minha própria sanidade. Escrevo pandaréus em folhas limpas e ricas.



Sou noivo de nada, corno de tudo. Há os que carregam predileções por meu sono. Há também os que adoram-me acordado. Beijo minha própria boca, chupo meu próprio pau, e esporro violentamente na cara da menina que gostaria de ser.Hoje é meu aniversário. E mais o que? O que faço, então, se nasci há alguns anos? Digo-lhes que continuo chorando. Feliz, porcamente feliz. Insossamente realizado. Um homem definitivamente completo. Um metade.