Desacostume
Já não me lembrava das técnicas. Não considerava o parágrafo. Fazia piadas com a coesão. Ela havia consumido o que ainda me restava de justo, de respeitável. Perdi minha fibra no meio dos seus cabelos. No rosto seco de inverno severo, fui à falência por entre seus dentes. Mordi em silêncio os lábios que não tinha e respirei um vestígio da vida, que escorria nos pêlos finos da nuca. Tracei a rota suicida das orelhas, que vinha desenhando o verde do chão, no caminho do queixo, e voltava como em desenho de criança, num risco ligeiro, fechando os olhos. Sorri junto do seu sorriso e abandonei a cena, como um acossado vira-latas.
Pus a ponta dos dedos na delicadeza no pescoço, e sucumbi ao tédio da farsa, como um encanto que se quebrara. Daí foi o sol. A violação do sol pelas paredes, refletindo alguma agonia, algum sopro medonho, como no medo. O escuro das coxas e sua relva. A nuvem que enfeitava a silhueta, dando-lhe imperfeição. Tirava a cera, trazia aquilo tudo para a humanidade e dava-lhe cheiro genuíno. Não de sabonetes e glicerinas, espumas e banho.
No fim, adormeci. Fechei o dia, fiz pouco caso. Não houve filme, consumo. Perdeu-se a arte possível e ganhou-se o tempo. E do tempo, pouco se pode escrever.